sábado, 30 de maio de 2009

Estudo analisa comportamento de futuros professores em relação à etnia dos alunos

Publicado em: 27/5/2009 06:03:27
Estudo analisa comportamento de futuros professores em relação à etnia dos alunos

A situação das crianças negras em sala de aula é desvantajosa, constatou pesquisa empreendida pela UFS com futuros professores. Eles apresentaram atitudes e comportamentos diferenciados em função da etnia dos alunos. A formação inadequada desses profissionais, porém, acaba influenciando a maneira como se colocam em sala de aula.

O estudo chegou à conclusão através das análises do julgamento que os professores fizeram em cima de redação escrita por um aluno do ensino fundamental e de um questionário com perguntas sobre temas étnicos, como preconceito e racismo. Para alguns professores, na redação estava anexada uma foto de uma criança negra e para outros, a de uma branca.

Duzentos e oito componentes da antiga Escola Normal e do curso de Letras da UFS participaram do trabalho. Num universo de zero a dez, os membros da Escola Normal atribuíram notas superiores à redação da criança branca face à negra: 7,8 contra 7,4. Já os alunos da UFS conferiram nota 7,1 para a negra e 7 para a branca. Apesar da diferença pequena em números, foram nos critérios estabelecidos nos questionários que o preconceito se expressou acentuadamente.

As teorias que estudam o preconceito e o racismo vão dizer que há uma tendência a avaliar pessoas brancas usando características de competência e critérios internos, enquanto quando se avalia as crianças negras usam-se critérios superficiais ou externos, explica a professora Dalila Xavier, do Departamento de Psicologia.

Houve uma tendência dos futuros professores para avaliar que o texto da criança branca era mais criativo e que ela possuía a idade adequada para produzir aquele conhecimento. Enquanto para a avaliação da criança negra consideraram o esforço para a construção do texto e a caligrafia.

Pretendemos continuar a pesquisa investigando o porquê da diferença das avaliações, diz a estudante Carla Jesus de Carvalho, que também atuou na pesquisa. O que mais chamou atenção foi a questão das diferenças dos sujeitos. Na Escola Normal a maioria deles origina da classe média baixa e possui um nível educacional mais baixo, enquanto os sujeitos da UFS participam de classe econômica e nível educacional mais elevados, completa.

Formação deficiente

Apesar de os resultados, em geral, não demonstrarem uma discriminação das crianças, observou-se que os futuros professores têm uma formação inadequada acerca de questões étnicas e raciais, o que acaba influenciando o modo como eles se portam em sala de aula.

A pesquisadora Carla aponta a ausência de disciplinas a respeito de assuntos como preconceito e discriminação, e a escassez de material didático que demonstre o papel dos negros na história, como justificativas às atitudes dos estudantes da área pedagógica.

Segundo ela, os livros didáticos são muitas vezes mal formulados e os professores tendem a aplicá-los como verdade absoluta. Neles os negros são estereotipados e lembrados apenas por sua participação na história do Brasil, principalmente quando se fala em escravidão.

É justamente o comportamento do professor, ao assumir a figura de autoridade, que pode colaborar para a existência ou não do preconceito entre os alunos. Numa sala diversa, se o docente não tiver uma formação adequada para lidar com essas diferenças, pode levar consigo estereótipos e tratar as crianças de forma diferente. Mesmo que se apresente de forma sutil, elas percebem o preconceito e podem se sentir inferiores em relação às demais, lembra.

Velado ou declarado o preconceito impede a criança de criar as suas próprias estratégias de defesa e consequentemente mina sua identidade. A rejeição leva a uma sensibilidade emocional que as impede de se concentrar nas suas atividades, e isso pode ter repercussão no seu desempenho escolar, diz a professora Dalila.

Diógenes de Souza (estagiário) e Luiz Amaro

Agência UFS de Divulgação Científica


http://www.faxaju.com.br/viz_conteudo.asp?codigo=2752009655222298

quinta-feira, 21 de maio de 2009

IBGE: Continua desigualdade salarial entre negros e brancos

“As estatísticas não mentem”. Essa foi a declaração do deputado Eduardo Valverde (PT/RO), ao analisar os dados divulgados nesta terça-feira (19) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostra que ainda há uma grande desigualdade salarial entre negros e brancos.

A pesquisa feita com um comparativo de março de 2003 a março deste ano, observou que em questões de ocupação, escolaridade e rendimento, a renda média real dos negros e pardos foi de R$ 690,3 para R$ 847,7, enquanto que a dos brancos foi de R$ 1.443,3 para R$ 1.663,9.

Ainda segundo o IBGE, houve um aumento também na empregabilidade de brancos em detrimento a de negros, 53,9% e 45,3%, respectivamente.

Para mudar essa realidade, Valverde reforçou a necessidade de implementar políticas públicas eficientes que modifiquem essas estatísticas. Uma forma citou o parlamentar é investir em profissionalização e garantir a participação de negros em universidades, mediante as cotas.

O Parlamentar que é membro da Frente em Defesa da Igualdade Racial tem lutado pela aprovação do Estatuto da Igualdade Racial (PL 6264/05).

O projeto proíbe entre outras coisas, a exigência de boa aparência para candidatos a empregos e de fotos em currículos, o que se caracteriza como discriminação, além de fixar cotas na educação destinadas a alunos de escolas públicas, em proporção no mínimo igual ao percentual de pretos e pardos na população do estado onde está instalada a instituição de ensino.

Currículos Escolares_ Valverde também é autor do PL 5361/05, que insere nos currículos escolares do ensino fundamental conhecimento sobre a língua, costumes e a cultura dos indígenas, quilombolas, ciganos, como forma de combater o racismo e intolerância étnica.

“A efetiva democracia racial no Brasil constrói-se mediante a educação de nossos jovens nos conhecimentos dos usos, costumes e tradições de nossos povos tradicionais e minorias raciais contribuem para o combate ao racismo e todas as formas de discriminação, contribuindo para a tolerância e a convivência pacífica entre os diversos grupamentos sociais brasileiros”, concluiu.

http://www.onortao.com.br/ler.asp?id=22780

quinta-feira, 14 de maio de 2009

video sobre questões étnico-raciais

Contribuição da colega Nara Oliveira

http://www.band.com.br/canallivre/videos.
asp

Ministério da Educação lançou plano nacional nesta quarta-feira. Objetivo é implementar lei que obriga ensino de história da África.

'Não vou dar dinheiro para município rico', diz secretário da Diversidade

Ministério da Educação lançou plano nacional nesta quarta-feira.
Objetivo é implementar lei que obriga ensino de história da África.

Fernanda Calgaro Do G1, em São Paulo


Na tentativa de fazer com que municípios e estados implementem de fato a lei que torna obrigatório o ensino de história e cultura africanas nas escolas, o Ministério da Educação lançou nesta quarta-feira (13) um plano nacional. Uma das metas é capacitar professores para que o tema seja tratado em sala de aula, além de subsidiar projetos na área. No entanto, o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, André Lázaro, afirma que só "colocará dinheiro em município pobre". Para os ricos, pretende dar somente apoio técnico. Leia a seguir trechos da entrevista.


G1 - Por que a lei 10.639, que torna obrigatório o ensino de história da África não pegou?

André Lázaro - Não é verdade que a lei não pegou. Mais de 30% de professores e diretores já fizeram curso sobre como tratar a questão étnico-racial em sala de aula. Se contarmos que no Brasil há 1,5 milhão de profissionais com funções docentes, 30% é muita gente, dá mais ou menos 500 mil pessoas. Então, não é verdade que a lei não pegou, mas é verdade que lei não se universalizou. Um problema talvez mais grave é que, nas faculdades de pedagogia e licenciaturas, que formam professores, não vemos esse compromisso de implementar a lei.


G1 - O que o plano nacional, lançado nesta quarta, estabelece?

Lázaro - O plano traz as responsabilidades para cada ator da educação, como o governo federal, os conselhos estaduais de educação, as escolas e as instituições de ensino superior. Isso ajuda a dar ao gestor público a nitidez das suas responsabilidades e atribuições. Além desse papel, o plano vem fortalecer uma coisa que o MEC vem fazendo, que é a rede de educação para a diversidade, com a oferta cursos de especialização à distância em várias áreas, inclusive na temática étnico-racial, em uma parceria com universidades.


G1 - Haverá uma verba extra para os municípios que aderirem ao plano?

Lázaro - Se a rede incluir seus professores no curso, o curso é de graça. E, em vez de dar o dinheiro para a rede, nós estamos assumindo o ônus de fazê-lo. Então, ela não tem custo de formação. Nesse sentido, é uma verba. Mas não é verdade que haverá uma verba extra porque não vamos dar o dinheiro, vamos dar o serviço. Mas isso não impede que alguma secretaria estadual ou municipal que tenha um projeto de qualidade na área receba apoio.

G1 - Como isso irá acontecer?

Lázaro - O MEC está trabalhando de um jeito que me deixa muito feliz como começou a trabalhar no segundo mandato [do Lula]. A gente não tem mais balcão. Ou seja, não chega um cara com um projeto e pede apoio. Não tem isso mais. Existe um instrumento diagnóstico de rede de ensino, um para os municípios e outro para os estados. E tem uma questão relativa à lei 10.639, em que a rede deve avaliar como está trabalhando a lei. Há quatro níveis de resposta: se está trabalhando em toda a rede, em boa parte dela, apenas uma parte ou não está trabalhando. Todos os estados e municípios que estão na condição 1 e 2, isto é, que não estão fazendo um trabalho de modo como deve ser feito, vamos apoiar. Agora, não vou colocar dinheiro em município rico. Eu vou colocar dinheiro em município pobre. Para o município rico, dou apoio técnico, curso de formação para os gestores, que é gratuito para todo mundo, rico ou pobre. No momento, não sei dizer quantos municípios estão nos níveis 1 e 2.

G1 - Como funciona essa ferramenta?

Lázaro - É esse diagnóstico que gera o financiamento do MEC. Se o estado ou município faz uma avaliação para fazer bonito na foto, recebe menos apoio. Então, não tem razão para falsear o dado. Ao contrário, teria razão para falsear para menos.


G1 - Como o sr. avalia o papel do negro hoje na sociedade?
Lázaro - A população negra, que envolve pardo e preto, já é maior cerca de 1% do que a branca. Mas, quando se olha para a sociedade, isso não se reflete na estrutura da sociedade, com relação a acesso a direitos, como a educação. Ao contrário, em todos os itens de análise da política social brasileira, os negros estão em desvantagem, são mais pobres, têm menos educação etc. Segundo o parecer do Conselho Nacional de Educação sobre a lei, que é brilhante, isso decorre de uma estrutura da sociedade brasileira que ainda não se libertou das dimensões que a escravidão impôs no nosso imaginário. Quando se fala do negro, não se fala daquilo que os escravos negros trouxeram ao Brasil como contribuição cultural. Todos nós, brancos e negros, precisamos nos reeducar. Então, estamos fazendo com que estados e municípios, primeiro, acordem para a necessidade de cumprir a lei, segundo, avaliem se a estão cumprindo e, terceiro, demandem apoio do MEC.

Notícia no sitio original

MEC lança plano para implantar lei que obriga o ensino de história da África

MEC lança plano para implantar lei que obriga o ensino de história da África

Plano é uma reação à falta de interesse de municípios e estados.
Instituto irá reunir dados sobre políticas afirmativas.



O Ministério da Educação (MEC) e a Secretaria de Políticas de Promoção para a Igualdade Racial (Seppir) lançaram nesta quarta-feira, 13, um plano nacional para que estados e municípios implementem uma lei de 2003 que torna obrigatório o ensino de cultura e história afro-brasileira nos sistemas de ensino.



O objetivo do plano é colaborar para que todo o sistema de ensino e as instituições educacionais cumpram as determinações legais adotem a lei nas suas redes numa forma de combater o preconceito e a discriminação.



Professores dos Estados e municípios que aderirem ao plano receberão capacitação do MEC. A lei não exige a criação de disciplinas específicas sobre o tema, mas o assunto terá de ser incorporado em livros didáticos e nas aulas de história e geografia, por exemplo.



Seis eixos foram propostos para a implementação da lei nº 10.639/03: fortalecimento do marco legal; política de formação para gestores e profissionais de educação; política de material didático e paradidático; gestão democrática e mecanismos de participação social; avaliação e monitoramento e condições institucionais.

Instituto

Também será criado um centro nacional de pesquisa para reunir informações sobre o andamento das políticas de ação afirmativa no Brasil e na América Latina. A instituição realizará mapeamento, avaliação e interpretação das políticas de inclusão social, étnica e racial no ensino superior e seus impactos na sociedade brasileira.

São quatro as linhas de pesquisa do instituto: modelos de implantação e impacto das cotas sociais e étnico–raciais nas universidades; educação superior indígena e interculturalidade; direitos humanos, legislação brasileira e disputa jurídica; relações étnicas e raciais configuração nacional.

Será formado um banco de dados sobre os egressos de ação afirmativa com enfoque racial. A ideia é acompanhar a trajetória desses novos profissionais no mundo do trabalho.

Ver notícia no site de origem

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Estudo do MEC que compara notas de brancos e negros causa polêmica

Estudo do MEC que compara notas de brancos e negros causa polêmica

O estudo do Ministério da Educação que compara o desempenho de alunos brancos e negros na Prova Brasil é motivo de polêmica entre especialistas de diferentes áreas e correntes ideológicas.

De um lado, há quem questione a sua validade e qualidade técnica, enquanto outros apontam a discriminação racial, sutil e mesmo inconsciente, como responsável pelo pior resultado de pretos e pardos.

Os especialistas que entrevistei só concordaram num ponto: não é possível afirmar que qualquer grupo étnico seja mais ou menos inteligente do que outro.

A presidente da Sociedade Brasileira de Genética, Mara Helena Hutz, diz que não há diferença de inteligência entre grupos étnicos.

— Essa questão de raça, do ponto de vista biológico, não existe e não tem nenhuma influência (na inteligência ou no rendimento escolar).

O ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, reagiu com desconfiança. Segundo ele, alunos de mesmo nível socioeconômico e com acesso a oportunidades iguais deveriam ter desempenho semelhante:

— Acho que essa pesquisa deveria ser refeita, com mais variáveis. Meu filho estuda numa escola particular no Rio de Janeiro e o rendimento dele está dentro da média da escola.

Para a socióloga Maria Ligia Barbosa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a discriminação racial dentro e fora da escola prejudica a aprendizagem. O problema central, segundo ela, está na expectativa que os próprios pais nutrem em relação aos filhos.

Maria Ligia pesquisou o assunto em escolas do Rio e diz que ficou chocada. Ela conta que, em lares igualmente pobres e com filhos na mesma faixa de rendimento escolar, as famílias negras demonstraram ter menor expectativa do que as brancas quanto ao futuro profissional dos jovens.

— As mães negras acham que os filhos vão chegar no máximo ao 2.º grau e as mães brancas acham que eles chegarão à universidade. Elas não estão desvalorizando seus filhos, mas fazendo uma avaliação correta do modo como funciona a sociedade brasileira. Mesmo que todo mundo se declare não racista, na prática o país funciona de uma forma que as pessoas são racistas, sim — diz Maria Lígia.

Em sentido oposto, a antropóloga Yvonne Maggie, também da UFRJ, critica o estudo. Ela argumenta que variáveis potencialmente importantes foram deixadas de fora, como a qualidade do ensino a que os pais tiveram acesso, a renda familiar e o número de filhos.

— Pesquisas desse tipo prestam um desserviço. Não dá para inferir nada. Mesmo que esses dados fossem verdadeiros, não são demonstração de racismo. O que podem é reforçar preconceitos.

Yvonne também pesquisa a realidade das escolas no Rio. Segundo ela, a principal queixa em termos de discriminação diz respeito à perseguição a estudantes que são ou parecem ser homossexuais.

Em termos de desempenho escolar, segundo ela, a diferença mais significativa é de gênero, isto é, meninas costumam tirar notas mais altas do que meninos:

— O fator raça ou cor do estudante tem muito pouca relevância na definição do desempenho. Continuo achando que os pretos e pardos, nas mesmas escolas desses alunos brancos, são de famílias mais pobres.

Não é o que pensa o economista Sergei Soares, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Para ele, o racismo permeia a sociedade brasileira e afeta o relacionamento entre alunos e professores.

— De modos sutis, os professores têm expectativas mais altas para os meninos brancos e baixas para os negros. E aí os meninos começam a cumprir essas expectativas — diz Sergei.

O consultor no Brasil da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Célio da Cunha, segue a mesma linha:

— O Brasil tem uma herança escravista muito grande. O lado emocional é pouco levado em conta, mas está entre os fatores que podem ajudar ou obstruir a aprendizagem.

O consultor da Fundação Cesgranrio e especialista em avaliações Ruben Klein diz que estudantes pretos costumam tirar notas mais baixas do que brancos, mas a regra não vale para pardos. Klein diz que é preciso cautela:

— O ideal seria ter mais variáveis. Tem que tomar cuidado com as as conclusões.

O economista André Urani, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), teme que o resultado enseje leituras racistas:

— Pode descambar para uma discussão perigosa e aparecer alguém para dizer que finalmente se provou que os brancos são mais inteligentes.

O diretor-executivo da Educafro, entidade que oferece cursos pré-vestibulares para negros, frei David dos Santos, elogia a iniciativa do MEC de produzir dados sobre as desigualdades raciais:

— Parece que tem um setor da sociedade branca que não quer que os negros saibam que estão excluídos.
http://oglobo.globo.com/blogs/educacao/posts/2009/05/12/estudo-do-mec-que-compara-notas-de-brancos-negros-causa-polemica-185413.asp

domingo, 3 de maio de 2009

Professor da UFRGS é condenado a pagar multa por racismo

Professor da UFRGS é condenado a pagar multa por racismo

MPF denunciou o docente por comentários racistas feitos em aula. Ele pode recorrer da decisão

A 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) condenou na terça-feira um professor da faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) a pagar multa civil por ato de racismo. O professor foi denunciado em ação civil pública pelo Ministério Público Federal (MPF) por ter feito em aula comentários racistas.

Conforme a denúncia do MPF, o acusado teria dito durante o primeiro dia de aula da disciplina "Leguminosas de Grãos Alimentícios", em março de 2000, as frases: "os negrinhos da favela só tinham os dentes brancos porque a água que bebiam possuía fluor" e "soja é que nem negro, uma vez que nasce é difícil de matar".

À época, foi aberta uma comissão de sindicância na faculdade, que concluiu que não havia uma conotação racista nas afirmativas do professor e que este tinha "o intuito de criar um ambiente mais descontraído no primeiro dia de aula", e ainda, que teria feito uso de expressões informais usuais no meio rural relacionadas à raça negra.

O MPF então ajuizou a ação, julgada pela 6ª Vara Federal de Porto Alegre, que foi considerada improcedente. A Procuradoria recorreu ao tribunal alegando que houve ação discriminatória e racista e que esta teria provocado constrangimento e indignação em todos os presentes e principalmente no único aluno negro presente.

O acusado defendeu-se alegando ter dito as frases sem intenção pejorativa e que valera-se de ditado corrente na zona rural, costumeiro em agricultores de origem italiana, que teria um conteúdo positivo, relativo ao vigor da raça negra. Entretanto, conforme alunos que testemunharam o fato, ele teria se retratado ao final da aula e em aulas posteriores tentado intimidar o aluno ofendido.

O relator do processo, juiz federal Roger Raupp Rios, convocado para atuar na corte, entendeu que "é inequívoca a violação dos princípios da legalidade, da impessoalidade e da moralidade". Segundo o magistrado, um professor com o grau de intelectualidade do réu não teria como ignorar o conteúdo racista nas expressões utilizadas.

O professor foi condenado a pagar multa civil no valor de uma remuneração mensal do seu cargo universitário, que será destinada ao fundo da ação civil pública, incluídas todas as vantagens e adicionais que recebia quando ocorreu o fato. Ele poderá recorrer da decisão junto ao Superiro Tribunal de Justiça.

A Justiça do RS preferiu não revelar o nome do professor.

As informações são da assessoria de imprensa do Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&channel=13&tipo=1&section=Geral&newsID=a2492975.xml