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Estudo mostra que cotas para negros não têm o mesmo efeito em todos os cursos
14/12 - 20:36
Agência Brasil
Este artigo segue as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
BRASÍLIA - Enquanto em cursos como desenho industrial, história, engenharia mecatrônica e enfermagem não haveria nenhum ou um percentual muito pequeno de alunos negros se não houvesse o sistema de cotas, uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) mostra que em outros, como medicina e psicologia, a reserva de vagas teria pouca influência no número de negros matriculados.
No estudo Efeitos da Política de Cotas na UnB: uma Análise do Rendimento e da Evasão, a pedagoga Claudete Batista Cardoso simulou quais as chances de ingresso que alunos negros teriam na universidade e percebeu que em alguns cursos as cotas não seriam necessárias. Um exemplo é o curso de medicina. “Os alunos que entram para medicina teriam entrado de qualquer forma, muitos deles”, disse a pedagoga.
Em geral, a reserva de vagas têm menor impacto nos cursos menos prestigiados. Na área de humanidades, por exemplo, sem as cotas, estima-se que aproximadamente 13% das vagas já seriam preenchidas por negros. Entre os cursos considerados de alto prestígio, esse percentual é de pouco mais de 3%. Na UnB, o sistema de cotas reserva 20% das vagas para estudantes afrodescendentes.
Na área de ciências exatas, o percentual estimado de alunos negros nos cursos de baixo prestígio, sem o sistema das cotas, seria de 9,5%, contra 5,7% entre os cursos de maior prestígio.
Já nos cursos de saúde a lógica se inverte. O percentual de negros que conseguiriam uma vaga independentemente da reserva de 20% é maior nos cursos mais prestigiados (13,9%) do que nos de menor prestígio (5,9%).
De acordo com Claudete Cardoso, esses dados derrubam a tese de que as cotas aumentaram o número de negros em medicina, por exemplo. “É bom para desmistificar, é bom para mostrar para a universidade em quais pontos tinha o gargalo, o impedimento de negros entrarem no curso”, disse.
A pedagoga também acredita que essas conclusões podem ajudar a universidade a planejar suas ações, para que a instituição saiba como focar os trabalhos a fim de garantir a permanência dos alunos em alguns cursos. “Não vamos nos preocupar tanto quando eles [cotistas] entrarem na universidade em alguns cursos, mas nas engenharias é necessário haver uma ação em cima desses alunos que entram por cotas, se não eles não acompanham os outros alunos e não vão ter uma qualidade do curso tão boa”, concluiu.
Vocês sabiam que o Estado brasileiro que tem a maior população negra no Brasil é o Rio Grande do Sul? E que, independente das cotas, sempre foi o estado com maior índice de negros e mulheres universitários e formados?
ResponderExcluirBjs no coração, Mara.
Mara help!!!
ResponderExcluirUm relato:
ResponderExcluirUm amigo meu dos tempos de infância - temos fotos brincando juntos aos cinco anos - entrou para o curso de Direito. Aplicou-se, jamais repetiu uma disciplina sequer e formou-se. Tudo muito enfadonho nesta introdução, não fosse pelo fato dele contar-me que durante os primeiros dias de aula, no primeiro em uma escala muito maior, seus colegas olharem-no com um certo estranhamento e, alguns professores, com surpresa. Detalhe: em uma turma de quase cinquenta alunos, era o único negro. Ele me dizia, como se fosse a atitude mais normal do mundo, que logo o pessoal se acostumaria.
Particularmente gostaria de afirmar: este estranhamento - melhor entendido como "será que esse cara está de gozação conosco... ele entrou na faculdade de direito?" - este costume das pessoas lançarem um olhar que não seja o mesmo que lançariam para todos os demais colegas não pode ser encarado como "isso passa" ou "eles se acostumam". A gente se acostuma que após a noite o dia nasce. A gente tem que se acostumar com a obviedade de que o teto de nossos gastos jamais pode ser superior aos nossos proventos. Mas JAMAIS nos acostumarmos com a reprovação, a repulsa e o sarcasmo que um olhar de estranhamento pode conter. Pois algumas coisas não tem retorno e acabam machucando:
a) Uma flecha ou projétil lançados;
b) Uma palavra repleta de fel quando proferida;
c) Um olhar, este do relato acima, quando encontra os olhos da vítima.
Temos que enfrentar com altivez, coragem e determinação o preconceito velado, os olhares que se surpreendem ou desdenham a nossa audácia, os contras da "Raça Superior" que tentam desestruturar, diminuir e macular a nossa estima enquanto negros, índios, pobres, mulheres, pessoas com necessidades especiais, homosexuais,idosos. Por quê? Porque temos que lutar pelo nosso direito legítimo e cidadão de entrar no mundo do conhecimento, de ser um pensador, um pesquisador, um inventor, um cientista, um transformador, um cidadão. Se é preciso que seja através de cotas, que assim se realize. Mas se realize. Um aqui, outro acolá serão sementes plantadas que darão sábios e valiosos frutos para o bem da sociedade brasileira que brilha à luz dessa bela, edificante e eloquente diversidade.
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